Vocação – o presente de um amigo

29 de Junho de 2020

"Vocação – o presente de um amigo"

O livro do Eclesiástico afirma que “quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro” (cf. Eclo 6, 14) e o homem, por ser um ser sociável, tem a necessidade de amigos. Mas amizade compreende responsabilidade. Sempre que encontramos um amigo fiel temos responsabilidades para com ele, isso pelo simples fato de nos importarmos com essas pessoas que são caras para nós.

Uma relação de amizade compreende presença, apoio e responsabilidade, bem por isso, um amigo verdadeiro oferece sempre o que possui de melhor para o outro, não apenas em termos materiais, mas também em termos espirituais.

O melhor de todos os amigos, sem dúvida alguma, é Jesus Cristo, tanto que Ele mesmo afirma: “já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos chamo de amigos” (cf. Jo 15,15). Essa relação de amizade não surge da noite para o dia, mas é construída ao longo de uma vida, onde a experiência única de amor com o próprio Cristo estabelece os termos da relação de amizade. Isso exige muito de ambas as partes, pois ser amigo de Jesus compreende uma adesão à sua proposta de Reino e em contrapartida uma resposta a seus apelos.

Nesse sentido, vocação é mais do que um apelo, mas sim um presente de um amigo que deposita no outro uma grande parcela de esperança. Sobre isso o Papa Francisco em sua exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit diz o seguinte: “Para discernir a própria vocação, é preciso reconhecer que esta vocação é o chamado de um amigo: Jesus. Amigos, se eles recebem algo, eles recebem o melhor. E isso não é necessariamente o mais caro ou difícil de conseguir, mas o que se sabe é que o outro se alegra. Um amigo percebe isso tão claramente que consegue visualizar em sua imaginação o sorriso de seu amigo quando abre seu presente. Este discernimento de amizade é o que eu proponho aos jovens como modelo se eles procuram descobrir qual é a vontade de Deus para suas vidas.” (287)

Partindo dessa afirmação compreende-se muito sobre a escassez de vocações da atualidade, pois se o cristão, sobretudo os mais jovens, não conseguem estabelecer uma relação de amizade íntima com Jesus Cristo - caminho, verdade e vida -, não serão capazes de perceber a vocação como um presente valioso que pode determinar a felicidade como algo permanente em sua vida.

Há muito tempo a Igreja insiste nisso, que vocação e felicidade são termos que caminham lado a lado, mas a errônea concepção de que vocação é sinônimo de profissão muitas vezes macula e distancia esse potencial alcance de felicidade. Ainda que revelar o Cristo seja o intuito e o esforço de todos aqueles que estão engajados na Igreja, é preciso ter em mente e priorizar em nossas paróquias e comunidades os meios para que os cristão estabeleçam laços profundos de amizade com Jesus, pois só assim será possível que essa amizade frutifique em um profícuo sim para os chamados constantes que Ele faz.

O sumo pontífice ainda em sua exortação apostólica pós sinodal lembra que existem por aí “muitas propostas”, “belas e intensas”, mas que elas podem a médio longo prazo deixarem o jovem “cansado e sozinho”, mas a proposta de Jesus, pelo contrário, preenche os vazios e alivia, pois como ele mesmo afirma, “meu jugo é suave e meu fardo é leve”. (Mt 11, 30)